A fábrica de escândalos do Governo Federal não para de produzir novos produtos. Dessa vez, o repórter Paulo Celso Pereira, da Revista Veja, apurou a existência de uma guerrilha pelo controle do Partido Progressista, atualmente dividido entre o atual ministro, Mário Negromonte e o ex-ministro Márcio Fortes. Esse último aliado do novo líder, o deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro.
O plano do ministro é promover um contragolpe. Só que, para isso, ele precisa convencer alguns colegas a mudar de lado. É aí que começa a parte da história que preocupa o Planalto.
Negromonte montou um bunker numa sala anexa a seu gabinete, onde quatro aliados de sua inteira confiança - os deputados João Pizzolatti, Nelson Meurer, José Otávio Germano e Luiz Fernando Faria - tentam persuadir os deputados a se alinhar novamente com o ministro.
Apenas na última terça-feira (16), doze deputados estiveram no ministério. Sob a condição de anonimato, três revelaram que ouviram a proposta da mesada de R$ 30 mil reais. Diz um parlamentar do PP: "Muitos ficaram assustados com a pressão que sofreram no ministério. Quando os argumentos se esgotavam, vinha a proposta de dinheiro".
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Mesada de R$ 30 mil
É quanto parte do PP está oferecendo a seus deputados pelo apoio ao ministro das Cidades, Mário Negromonte. E as tratativas ocorrem no ministério
Paulo Celso Pereira
O radar do Palácio do Planalto está apontado desde a semana passada para o Ministério das Cidades - mais precisamente para o gabinete do ministro Mário Negromonte. Se as informações que chegaram ao conhecimento do governo forem rigorosamente verdadeiras, Negromonte pode começar a pensar em limpar as gavetas.
Na última quarta-feira, 17, parlamentares do Partido Progressista (PP) procuraram a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para relatar uma sucessão de eventos estranhos que estariam se passando no interior do ministério. Em guerra aberta com uma parte da legenda pelo controle do partido, Negromonte estaria transformando o ministério num apêndice partidário e usando seu gabinete para tentar cooptar apoio.
Perto do que aconteceu ultimamente em outros gabinetes, alguns diriam que o ministro mereceria um prêmio. O problema é que os argumentos usados por aliados de Negromonte para convencer seus correligionários não se restringem a promessa de cargos, liberação de verbas, influência em decisões - enfim, a receita tradicional que costuma seduzir a maioria dos políticos. Segundo relatos de deputados que estiveram no ministério, a oferta inclui algo ainda mais atraente: a promessa de uma mesada de 30000 reais para quem aderir.
O PP é o terceiro maior partido da base aliada, com 41 deputados e cinco senadores.
Controla há seis anos o Ministério das Cidades, uma pasta que dispõe de um orçamento de 22 bilhões de reais e programas de forte apelo eleitoral em todos os cantos do país. Cabem ao ministério, por exemplo, obras de instalação de redes de água, esgoto e construção de casas populares. Ações que resultam em um poço de votos - só para ficar na parte republicana dos interesses envolvidos -, cuja disputa pelo controle levou os pepistas a iniciar uma guerrilha.
Na formação do governo Dilma, o ministro Negromonte foi indicado ao cargo pelo partido mais por suas relações com o PT da Bahia do que pelo trânsito que detinha junto aos colegas. Seu nome não contava nem com a simpatia da presidente.
Há duas semanas, o grupo ligado ao ex-ministro Márcio Fortes conseguiu destituir da liderança do partido o deputado Nelson Meurer, a aliado de Negromonte, e pôr no lugar dele o deputado Aguinaldo Ribeiro. Ao perceber o poder se esvaindo, Negromonte resolveu contra-atacar.
O plano do ministro é promover um contragolpe. Só que, para isso, ele precisa convencer alguns colegas a mudar de lado. É aí que começa a parte da história que preocupa o Planalto. Negromonte montou um bunker numa sala anexa a seu gabinete, onde quatro aliados de sua inteira confiança - os deputados João Pizzolatti, Nelson Meurer, José Otávio Germano e Luiz Fernando Faria - tentam persuadir os deputados a se alinhar novamente com o ministro. Apenas na última terça-feira, doze deputados estiveram no ministério. Sob a condição de anonimato, três revelaram que ouviram a proposta da mesada de 30000 reais.
Diz um parlamentar do PP: "Muitos ficaram assustados com a pressão que sofreram no ministério. Quando os argumentos se esgotavam, vinha a proposta de dinheiro". Procurado por VEJA, o ministro Negromonte nega não só a oferta de dinheiro ("um absurdo") como a própria existência das reuniões, com os deputados"do partido ("não tive conhecimento"). Estranho, uma vez que os próprios deputados do PP confirmam que participaram dessas reuniões. "Estive com o ministro e os deputados, mas para tratar da minha permanência na legenda", conta o deputado Raul Lima.
Confrontado, o ministro atribui tudo a um jogo de intrigas e aponta o rival Márcio Fortes, recém-nomeado para a Autoridade Pública Olímpica, como o responsável: "Sei que há boatos de que pessoas vieram aqui para fazer isso e aquilo, da mesma forma que o pessoal estava dizendo que o Márcio Fortes foi lá na liderança fazer promessa, comprometer-se na tentativa de arranjar assinatura.
O ministro Márcio Forres saiu daqui com raiva de todo mundo, porque ele gostaria de ter permanecido. Não me cabe ficar comemorando boatos". Fortes, por sua vez, rebate de maneira lacônica: "No dia 31 de dezembro, deixei o cargo de ministro e me afastei das atividades partidárias". O Ministério de Relações Institucionais confirma que recebeu as denúncias e está acompanhando a guerrilha do PP com muita atenção. A presidente Dilma Rousseff também já foi informada do problema.
Levando em conta o passado do PP, a presidente deve mesmo seguir de perto o caso. Pode ser tudo produto de uma intriga entre os correligionários? Embora improvável, pode. A compra de votos de parlamentares não é algo novo na história do partido, um dos protagonistas no escândalo do mensalão - que, aliás, envolvia pagamento de mesada. Na ocasião, líderes da legenda receberam 4,1 milhões de reais em propina.
Quatro integrantes do partido foram denunciados no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal. Um deles, o atual secretário de Saúde de Mato Grosso, o deputado licenciado Pedro Henry - réu por formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro -, está disposto a voltar à Câmara para ajudar o ministro Negromonte.
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