Com a vitória do conservador
Partido Popular nas eleições espanholas deste domingo, a Espanha se
tornou mais um país europeu a trocar de governo em meio à crise
econômica que atinge a zona do euro.
Em Portugal e na Irlanda, assim como na Espanha,
as mudanças foram determinadas pelas urnas. Já na Grécia e na Itália,
os primeiros-ministros renunciaram sob pressão para a formação de um
novo governo.Adaptando o lema do presidente Lula em 2002 , o conservador Mariano Rajoy afirmou que ele é a esperança que vence o medo.
Com 44,4 % dos votos contra 28,6% do Partido Socialista Operário Espanhol, o candidato do Partido Popular se definiu como "o voto da esperança frente ao medo de que continuasse no governo gente que não soube responder às necessidades da nação".
O líder conservador saudou seus eleitores que comemoravam em frente a sede do partido, avisando que com a vitória "diremos à União Europeia que deixaremos de ser um problema para formar parte da solução" e que ele receberá uma herança de cofres vazios.
"O que vem por diante é muito difícil, porque essa gente nos deixou duros". E advertiu que ninguém deve esperar milagres de um dia para outro porque "tirar a Espanha da crise não vai sair grátis".
Futuro
O candidato derrotado, Alfredo Pérez Rubalcaba, que telefonou ao vencedor para parabenizá-lo, disse que “a Espanha está numa encruzilhada histórica”, referindo-se ao momento econômico.
Isto significa, segundo analistas, que não são esperados melhores índices de crescimento, nem redução da taxa de desemprego e do déficit público antes de 2013.
Os especialistas também acham que será complicado controlar a pressão dos mercados nos próximos meses, até que se saiba se a Espanha precisará ou não de um resgate financeiro da União Européia ou do FMI.
"O problema mais grave hoje é demonstrar que a Espanha tem liquidez e é solvente", disse à BBC Brasil, Carlos Granados, professor de Economia Aplicada da Universidade Complutense de Madri.
"Porque índices negativos praticamente todos os países da União Européia tem. Alguns até com dívidas públicas mais altas. Mesmo assim tem a condescendência dos mercados para continuar endividando-se. A diferença é que podem demonstrar flexibilidade operativa; algo que a Espanha não tem e precisa provar que é capaz de se auto-financiar".
Estratégia
Os analistas lembram que o partido conservador também é responsável pela pressão dos mercados, por ter prejudicado a imagem do país no exterior durante a campanha eleitoral."A estratégia do PP de criticar a economia interna, às vezes de maneira inconsequente, com a finalidade de acusar os socialistas e obter votos, causou um efeito bumerangue. Aumentou a desconfiança dos mercados sobre a Espanha", afirmou à BBC Brasil, o catedrático de Ciências Políticas e Sociais da Universidade de Barcelona, Vicençs Navarro.
O principal porta-voz da estratégia crítica foi o ex- Primeiro Ministro José Maria Aznar que definiu a economia nacional como "uma ruína" e "irrelevante no panorama internacional".
O catedrático acredita que o futuro governo terá que surpreender os mercados.
"Ou dizendo que a situação não é a que eles pensavam estando na oposição, o que é inverossímil, ou oferecendo um pacote de muitas reformas. Temo uma etapa de retrocessos econômicos, sociais e políticos."
"O chamativo é que o PSOE foi castigado pelos eleitores pela forma como administrou a crise, fazendo cortes sociais. E agora se elege um governo que fará muitos mais cortes e se preocupa muito menos com o social", concluiu.
‘Indignados’
Além dos problemas econômicos o novo governo terá que resolver outras questões polêmicas. As privatizações nas áreas de saúde e educação já estão provocando debates e greves.
Em cidades como Madri, Barcelona e Valencia os professores estão greve pelas medidas dos governos regionais (conservadores) de cortes e cessão de administrações públicas a grupos privados.
Pela primeira vez em 30 anos os eleitores do País Basco puderam votar sem as ameaças do grupo separatista ETA, que anunciou recentemente o fim da luta armada.
"Umas eleições em absoluta liberdade, sem ameaças, extorsões e ataques", afirmou o governador da região, Patxi López, lembrando que os eleitores tinham medo de ir às urnas pelas reações dos militantes violentos.
Nas anteriores eleições, em 2008, o grupo separatista assassinou um vereador socialista dois dias antes da votação, que terminou com 90 presos e badernas nas ruas.
*Com informações de Anelise Infante, de Madri
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