Com a vitória do conservador
Partido Popular nas eleições espanholas deste domingo, a Espanha se
tornou mais um país europeu a trocar de governo em meio à crise
econômica que atinge a zona do euro.
Em Portugal e na Irlanda, assim como na Espanha,
as mudanças foram determinadas pelas urnas. Já na Grécia e na Itália,
os primeiros-ministros renunciaram sob pressão para a formação de um
novo governo.
O partido liderado por Mariano Rajoy
alcançou a maioria absoluta com 186 do total de 350 parlamentares, numa
eleição com 30% de abstenções.
Adaptando o lema do presidente Lula em 2002 , o conservador Mariano Rajoy afirmou que ele é a esperança que vence o medo.
Com 44,4 % dos votos contra 28,6% do Partido
Socialista Operário Espanhol, o candidato do Partido Popular se definiu
como "o voto da esperança frente ao medo de que continuasse no governo
gente que não soube responder às necessidades da nação".
O líder conservador saudou seus eleitores que
comemoravam em frente a sede do partido, avisando que com a vitória
"diremos à União Europeia que deixaremos de ser um problema para formar
parte da solução" e que ele receberá uma herança de cofres vazios.
"O que vem por diante é muito difícil, porque
essa gente nos deixou duros". E advertiu que ninguém deve esperar
milagres de um dia para outro porque "tirar a Espanha da crise não vai
sair grátis".
Futuro
A economia foi apontada como motivo da mudança de governo
O resultado é a maior derrota histórica do
socialistas que deixam o poder após dois mandatos do Primeiro Ministro
José Luis Rodríguez Zapatero, caindo de 169 para 110 deputados no
Congresso.
O candidato derrotado, Alfredo Pérez Rubalcaba,
que telefonou ao vencedor para parabenizá-lo, disse que “a Espanha está
numa encruzilhada histórica”, referindo-se ao momento econômico.
Isto significa, segundo analistas, que não são
esperados melhores índices de crescimento, nem redução da taxa de
desemprego e do déficit público antes de 2013.
Os especialistas também acham que será
complicado controlar a pressão dos mercados nos próximos meses, até que
se saiba se a Espanha precisará ou não de um resgate financeiro da União
Européia ou do FMI.
"O problema mais grave hoje é demonstrar que a
Espanha tem liquidez e é solvente", disse à BBC Brasil, Carlos Granados,
professor de Economia Aplicada da Universidade Complutense de Madri.
"Porque índices negativos praticamente todos os
países da União Européia tem. Alguns até com dívidas públicas mais
altas. Mesmo assim tem a condescendência dos mercados para continuar
endividando-se. A diferença é que podem demonstrar flexibilidade
operativa; algo que a Espanha não tem e precisa provar que é capaz de se
auto-financiar".
Estratégia
Os analistas lembram que o partido conservador
também é responsável pela pressão dos mercados, por ter prejudicado a
imagem do país no exterior durante a campanha eleitoral.
"A estratégia do PP de criticar a economia
interna, às vezes de maneira inconsequente, com a finalidade de acusar
os socialistas e obter votos, causou um efeito bumerangue. Aumentou a
desconfiança dos mercados sobre a Espanha", afirmou à BBC Brasil, o
catedrático de Ciências Políticas e Sociais da Universidade de
Barcelona, Vicençs Navarro.
O principal porta-voz da estratégia crítica foi o
ex- Primeiro Ministro José Maria Aznar que definiu a economia nacional
como "uma ruína" e "irrelevante no panorama internacional".
O catedrático acredita que o futuro governo terá que surpreender os mercados.
"Ou dizendo que a situação não é a que eles
pensavam estando na oposição, o que é inverossímil, ou oferecendo um
pacote de muitas reformas. Temo uma etapa de retrocessos econômicos,
sociais e políticos."
"O chamativo é que o PSOE foi castigado pelos
eleitores pela forma como administrou a crise, fazendo cortes sociais. E
agora se elege um governo que fará muitos mais cortes e se preocupa
muito menos com o social", concluiu.
‘Indignados’
'Indignados' recomendaram abstenções e vgotos para partidos menores
Esta penalização aos socialistas se transformou
em abstenções e votos para partidos minoritários que triplicaram seus
votos. Os jovens do 'Movimento Indignados' recomendaram esta opção
afirmando que fortalecer os pequenos grupos de esquerda era a resposta à
mudança de política social do PSOE.
Além dos problemas econômicos o novo governo
terá que resolver outras questões polêmicas. As privatizações nas áreas
de saúde e educação já estão provocando debates e greves.
Em cidades como Madri, Barcelona e Valencia os
professores estão greve pelas medidas dos governos regionais
(conservadores) de cortes e cessão de administrações públicas a grupos
privados.
Pela primeira vez em 30 anos os eleitores do
País Basco puderam votar sem as ameaças do grupo separatista ETA, que
anunciou recentemente o fim da luta armada.
"Umas eleições em absoluta liberdade, sem
ameaças, extorsões e ataques", afirmou o governador da região, Patxi
López, lembrando que os eleitores tinham medo de ir às urnas pelas
reações dos militantes violentos.
Nas anteriores eleições, em 2008, o grupo
separatista assassinou um vereador socialista dois dias antes da
votação, que terminou com 90 presos e badernas nas ruas.
*Com informações de Anelise Infante, de Madri